quarta-feira, junho 04, 2008

Cavalos garranos abatidos a tiro em "Paisagem Protegida"




Cavalos garranos abatidos a tiro em "Paisagem Protegida"


Dez cavalos de raça Garrana foram mortos a tiro de caçadeira com zagalote em plena Paisagem Protegida de Corno de Bico, nos concelhos de Paredes de Coura e de Arcos de Valdevez. As autoridades estão a investigar mas até agora não encontraram motivos para o crime.



Um primeiro grupo de animais, três mortos e dois gravemente feridos, que foram posteriormente abatidos pelo veterinário municipal, foi encontrado na segunda-feira em vários locais da zona protegida, no concelho de Arco de Valdevez, noticiou o JN. Os outros cinco cavalos foram encontrados ontem, durante o dia, numa área daquela paisagem protegida pertencente ao concelho de Paredes de Coura, mortos também a tiro de caçadeira com zagalote (munição mortífera utilizada para capturar caça grossa).



"Ontem (segunda-feira) por volta das 16 horas, um colega meu sentiu uns tiros na serra, fui ver e quando lá cheguei já encontrei cinco garranos mortos e hoje (ontem) de manhã, encontrei os outros", afirmou ao JN o proprietário de grande parte dos garranos abatidos. Carlos Araújo terá sido o primeiro a alertar a GNR de Paredes de Coura para a situação na tarde de segunda-feira, afirmando que "não tenho suspeitos nem vejo motivos para uma coisa destas", revelando que irá "seguir a via judicial" apresentando uma queixa-crime contra incertos.

O caso está a ser investigado pela GNR e deverá, segundo fonte daquela força policial, ser participado ao Ministério Público (MP) na qualidade de "crime de dano".



A mesma fonte referiu não existir, até ao momento, qualquer explicação para o sucedido, acrescentando que "todos os animais vão ser removidos por uma equipa do Ministério da Agricultura, provavelmente, para um aterro sanitário da área de Lisboa".



De acordo com o Registo Zootécnico da raça, iniciado em 1994, em Portugal existirão cerca de duas mil cabeças - 1500 adultos e 500 poldros - dispersos por dezassete concelhos nas províncias do Minho e Trás-os-Montes.

A «chacina» de dez cavalos garranos em Paredes de Coura agudizou a ameaça de extinção daquela raça, que neste momento já conta com menos de 2000 animais, noticia a agência Lusa.
Para o presidente da Fundação Alter Real, Vítor Barros, o garrano é uma raça actualmente «muito ameaçada», precisamente por contar com poucos exemplares pelo que foi classificada como espécie protegida.

«Os dez cavalos vítimas da chacina de Paredes de Coura representavam mais de 0,5 por cento do total de garranos existentes em Portugal», salientou.
Sucedânea da Coudelaria de Alter, a Fundação Alter Real é a autoridade equina nacional, cabendo-lhe preservar as várias raças de cavalo autóctones, sobretudo o lusitano, o garrano e o sorraia.

«O cavalo garrano é um património genético muito importante, que tem que ser preservado, pelo que estamos muito preocupados com o que aconteceu em Paredes de Coura», acrescentou Vítor Barros.
Cavalos mortos a tiro de zagalote
A ameaça de extinção dos garranos decorre do facto de a criação desta raça exigir um regime «semi-selvagem», solta pelos montes, o que é cada vez mais difícil de conseguir, não só pela falta de espaços, mas sobretudo pelos conflitos que se geram quando os animais decidem invadir terrenos particulares.

Dez garranos foram encontrados mortos, nos últimos dias, na área da Paisagem Protegida de Corno de Bico, em Paredes de Coura, uma ocorrência que já está a ser investigada pela GNR e pelo Ministério Público.

Segundo o presidente da Câmara local, António Pereira Júnior (PS), dois poldros foram igualmente alvejados, mas um pôs-se em fuga e um outro já foi devidamente tratado pelo veterinário municipal e «está a recuperar bem».

Crime: autores desconhecidos

O autarca disse ainda que se «aventam» várias hipóteses para o crime, mas ressalvou que só as investigações policiais poderão explicar o caso.

«Há quem diga que foi pura maldade de alguém que terá passado por ali de motorizada, outros falam em eventual vingança por problemas pessoais mal resolvidos e há também quem admita que os disparos poderão eventualmente ter sido efectuados pelos proprietários dos terrenos invadidos pelos animais. Mas são tudo meras hipóteses, meras conjecturas, nada mais que isso», referiu.

Contactado pelo Portugal Diário, António Esteves, vereador da Câmara de Paredes de Coura, disse que «as autoridades ainda estão a investigar».

A câmara já comunicou o caso ao Instituto de Financiamento à Agricultura e Pescas, que se encarregou da remoção das carcaças esta quarta-feira.

Para Pereira Júnior, esta ocorrência vem novamente «pôr a nu» a urgente necessidade do Ministério da Agricultura elaborar uma regulamentação que «discipline» o pastoreio dos animais nos montes.

«O que acontece actualmente é que os animais são deixados à solta nos montes, muitas vezes sem qualquer identificação, e volta e meia descem às estradas e surgem inopinadamente no caminho das viaturas, provocando acidentes atrás de acidentes, ou invadem terrenos privados, destruindo colheitas e sementeiras. O problema é que, nessas alturas, o proprietário nunca aparece e a culpa acaba por morrer solteira», criticou.
http://diario.iol.pt/ - 2008-06-04

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